sábado, 10 de setembro de 2011

O pavão que queria ser cachorro (Maíra Ramos)


 
Rubem Alves, famoso pedagogo e escritor brasileiro, já dizia que para educar bem-te-vi é preciso gostar de bem-te-vi e não tratá-lo como urubu. Se houvesse uma escola de urubus, um bem-te-vi verdadeiramente inteligente não poderia ser aprovado com louvor nas provas porque o que é bom para os urubus não serve para os bem-te-vis.
Cresci ouvindo essa história que trata do respeito às diferenças, fala tão em moda nos dias atuais.
Pois, dia desses, vi uma cena um tanto curiosa (para mim e para todos aqueles que a assistiram). Estava eu num restaurante chamado La Mina, localizado na Plaza de Armas, em Havana, capital de Cuba. Enquanto aguardava o almoço, eis que surge assim do nada um belo pavão. Ao menos parecia, em tudo, um legítimo pavão: grande, cauda muito comprida, penas coloridíssimas, pescoço de cor oscilando entre o azul e o verde, corpo cintilante e com pelos fininhos na crista. Todos os olhares se voltaram, de imediato, para o pavão, já que não seria uma figura muito comum de se encontrar dentro de um restaurante, no centro da cidade. Passado o susto inicial dos clientes do estabelecimento, voltamos a agir com naturalidade, quase a esquecer da presença daquela ilustre ave.
Até que chegou o prato pedido por um dos fregueses: um apetitoso bife de carne bovina (chamada de “res” pelos cubanos), acompanhado de arroz e feijão. O senhor a quem a comida estava destinada não teve mais sossego: o pavão rodeava a mesa, ia e vinha à espera de um tiquinho de comida. E todos em volta pararam, espantados, para assistir à cena: era um pavão ou um cachorro vira-latas?
E não parou por aí. A comida também chegou em outra mesa. De novo a cena: o bicho, enlouquecido, caminhava em círculos ao redor da mesa onde o almoço acabara de chegar. E ele olha, olha, olha. Aproxima-se dos fregueses, vira o pescoço para olhar melhor, até que a pessoa, compadecida, deixa um pouco da comida cair no chão. É a alegria do pavão! Ele já não sai mais dali até que mais comida lhe seja dada. Então, os fregueses se distraem e o bicho, louco de alegria, sobe na ponta dos pés, estica o pescoço e rouba a comida do prato do cliente. De minha parte, posso dizer que nunca vi nada igual...
Sempre achei o pavão um animal majestoso, que nos remete a uma imagem de luxo e riqueza. E aquele animal, definitivamente, não remetia a nada disso. Ao revés, acabava por desqualificar sua classe. E, reparando bem, depois pude ver que ele já não tinha o andar majestoso que os pavões costumam ter e que as penas de sua cauda estavam falhadas, claro, pois não se comporta como um dos seus! Esse pavão pode ser tudo, mas pavão, pavão de verdade é que ele não é! A mim pareceu estar diante de um autêntico vira-latas canino que, por força do destino, nasceu no corpo errado. Talvez para nos mostrar que nem tudo é cem por cento certo. É possível que ele fosse reprovado na escola dos pavões, mas não tenho dúvidas de que lograria êxito, e com louvor, na escola dos vira-latas...

7 comentários:

  1. Olá, teu espaço é muito bom.
    Lhe seguindo agora. Me visite, ficarei feliz.

    Bela semana. Abraço

    Dan.

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  2. Mais um seu! Adorei este!
    Parabéns! Continue publicando!

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  3. Andressa e Milan Sabina, fico feliz que tenham gostado. Assim até me incentivam a continuar escrevendo (e publicando aqui, claro!).

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  4. Dan, obrigada por seguir o blog. Todo dia tem postagem nova. Não deixe de conferir! Também vou lá no seu...

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