Nunca me dei bem com a morte. Em verdade, até acho que me dou um pouco pior que a média das pessoas. Nunca digo: "Fulano morreu ontem...". O verbo "morrer" é pouco (ou quase nunca) conjugado por mim. Prefiro o verbo "falecer". Aí digo: "Sicrano faleceu ontem". Mais suave, dá uma idéia de eternidade, como as coisas ligadas à morte devem ser.
Uma das primeiras recordações da minha infância é a da minha avó paterna e um presente para mim: um lindo tapete com desenho de um trenzinho. Pois eu, do alto dos meus três anos de idade, gostava tanto do presente que passei a chamar a avó de "vó do tapete". E ela devia gostar da alcunha...
Eis que um dia, já mais crescida, dei pela falta da "vó do tapete". Perguntei ao meu pai onde ela estava: "Virou poeira, minha filha!". E eu retruquei: "Pai, a gente vira poeira quando falece?" e ele respondeu: "Sim, todos nós viramos poeira quando morremos."
Como eu gostava muito da minha avó e queria tê-la por perto, ao menos para a última despedida, pedi à minha mãe um vidro usado de maionese (daqueles aproveitáveis para as mais diversas coisas, após o uso original). Então, recolhia todas as poeiras da casa e as colocava dentro daquele pote de maionese, com tampa amarela ou laranja, já não me recordo mais. E ali estava minha avó, poeira do mundo, fazendo companhia e dando mais sentido aos meus dias.
Durante muito tempo eu acreditei que a gente virava poeira quando morria. Hoje, sei que isso não ocorre, contudo, não sei o que nos acontecerá quando chegada a hora da partida. Só sei que o mundo era mais simples quando minha avó do tapete habitava meu quarto dentro de um vidro usado de maionese. Talvez tenha virado estrela...
Maíra, gostei muito desse escrito.
ResponderExcluirmuito sensivel e caiu bem quanto as angustias que tenho sentido.
Escreva mais vezes... fico feliz quando vejo algum texto seu por aqui.
ResponderExcluirmtos beijos.
Brigadinha pelo elogio, Andressa! Você me estimula a continuar a escrever...
ResponderExcluirQue lindo Maira...
ResponderExcluirparabéns, maíra.
ResponderExcluirgostei da imagem no fim do texto.
abraço
Obrigada, Jairo, vindo de ti é um elogio e tanto!!!
ResponderExcluirObrigada, tia!!! Volte sempre! Beijos!
ResponderExcluirPoeira? Coitada da sua avó maíra, virar poeira e ser guardada num vidro de maionese!
ResponderExcluirAinda se fosse um pó, um pozinho... Tadinha!
Mas no fundo seu pai estava certo, talvez quisesse te dar uma noção de como a vida é passageira.
Mas adorei a maionese.
Seus escritos são os que mais gosto!
Parabéns mais uma vez.
Filha, já se passaram 29 anos e vc ainda lembra disso? Reze por ela sempre, prq vc era muito querida por todos. Agora o pote de maionese não tenho lembranças dele não! Saudades de sua "vó do tapete"!
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