A aldeia escuta desolada
o canto da ave maltratada.
É o único pássaro da aldeia
e foi o único gato da aldeia
que o devorou pela metade.
A ave deixa de cantar,
o gato deixa de roncar
e de lamber o próprio focinho.
A aldeia faz ao passarinho
maravilhosos funerais,
e o gato, que foi convidado,
segue o caixãozinho de palha
onde o pássaro se amortalha,
conduzido por uma menina
que não para nunca de chorar.
- Se soubesse que isso te faria sofrer tanto,
diz-lhe o bichano,
eu o teria comido todo
e te contaria, depois,
que ele havia batido asas,
batido asas para o fim do mundo,
para um mundo tão longe
que ninguém nunca voltou de lá.
Tu sofrerias muito menos,
só um pouquinho de tristeza
e outro pouquinho de saudade.
Nunca devemos fazer
as coisas pela metade.
* Tradução do poema por Carlos Drummond de Andrade, constante do livro "Poesia Traduzida", editora Cosac Naify, ano de publicação 2011
Maíra esse poema é lindo, mas dói...
ResponderExcluirTristinho, né? Também achei, mas contém uma grande verdade!
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