domingo, 27 de novembro de 2011

O martírio do artista (Augusto dos Anjos - 1884-1914)

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!

Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz, e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!

6 comentários:

  1. Descrição perfeita de um sentimento. E nem precisa ser artista para sentir... consome até os amadores hehehe.
    Passei para deixar um beijo, um abraço e agradecer o carinho, você é importante!
    ótima semana... fique com Deus.
    Beijos!

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  2. E falar de "artista" é algo recorrente entre os poetas, sempre tão inspirados (ou sofrendo com a falta dela, a inspiração). Volte sempre, mocinha! Uma ótima semana também!!!

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  3. Parece mesmo fado!!! Um destino implícito:)

    Lindo o poema:)

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  4. Muito bom gosto na seleção dos escritos :) Dá gosto vir aqui

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  5. O gênio de Augusto sempre provoca os sentimentos mais variados.

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