domingo, 11 de março de 2012

O apanhador de desperdícios (Manoel de Barros - 1916)

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar,
dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
     de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

3 comentários:

  1. No entanto, sinto falta, ainda, de seus próprios escritos. Isso não é dizer pouco diante da beleza de versos de Outrem. Você também "tem um atraso de nascença e está aparelhada para gostar de passarinhos!"
    Onde seus escritos Maíra?

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  2. Cade o botão curtir para o comentário acima? hhehehe.
    Bom domingo, bjs.

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  3. Ai, gente, juro que eu até queria e tento, mas a inspiração anda fugindo de mim... Uma hora a gente se encontra por aí (rsrs). Brigadinha pela força!

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