domingo, 29 de abril de 2012

Soneto de constatação - XXVI (Pedro Lyra - 1945)

Nasce um homem.
Quando ele se percebe
joga contra o destino a sua vontade:
quer luzir
quer voar
quer sobrepor-se
para provar que a vida tem sentido.

Trabalha:
cada fruto desse esforço
lhe torna o mundo em forma de desfrute.

Combate:
cada etapa ultrapassada
acrescenta-lhe forças para a próxima.

Pesquisa:
cada jóia imaginada
lhe confirma o triunfo sobre o tempo.

Mas na hora mais densa opaca íntima
em que um espelho cego cobra o sendo
nem glória
nem riqueza
nem poder:

— só interessa mesmo o que lhe falta.

Um comentário: