terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Provisões (Alberto da Cunha Melo - 1942 - 2007)

A palavra Deus está fria
como uma máquina ao relento;
é uma palavra que morreu
sem lã, na garganta dos pobres.

Amarrado a este tronco velho
e esperando que ele apodreça,
que grito agora tu darás
para aqueles que se aproximam?

Amanhã não é propriamente
uma palavra que te salve.
É um sonho que busca outro sonho
mais longínquo, para esganar-te.

É cedo ainda porque as chamas
da ventania não chegaram,
é cedo ainda porque insistes
em contemplá-las algum dia.

Vozes isoladas nos campos
murados não se comunicam;
e alguém, que de longe te viu,
entre espinheiros fecha os olhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário