quinta-feira, 11 de julho de 2013

Poema para Dora Berndt (Humbero Haydt de Souza Mello)

Não diremos que dormes
porque teu sono é mais profundo que o necessário,
e tuas vestes se desfarão como folhas
ao longo das noites solitárias.

Mas diremos que vives,
que de algum modo vives entre os que te amaram
e não te conheceram, apesar do amor,
e não te tocaram, apesar dos tatos,
e não te viram, apesar dos olhos.

Mas diremos que revives
dentro do enigma da tua ausência
e, principalmente, dentro do mistério que sem querer compunhas
com tuas flores, e tuas pedras, e teus cristais
lavrados com a finura da tua existência.

Mas diremos que renasces,
não apenas em cada pássaro, em cada violeta, ou mesmo em cada neto,
mas principalmente em cada moça que se dá ao amor
como quem canta um hino,
e é capaz de seguir um beijo como a um som de violino:
em cada velho que, chocado com o existido,
se faz surdo para ouvir no dentro
o resto do amor que o resto amou sem ser ouvido.

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