sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Espinhos, vidros partidos, enfermidades, lágrimas (Pablo Neruda - 1903 - 1974)

Espinhos, vidros partidos, enfermidades, lágrimas
assediam noite e dia o mel dos seres felizes
e de nada servem a torre, a viagem, os muros:
a desgraça atravessa a paz dos que dormem,

a dor sobe e desce e aproxima as suas colheres
e não há homem sem este movimento,
não há dia de anos, não há teto nem cerca:
é preciso ter em conta este atributo.

E também não aproveitam, no amor, olhos fechados,
profundos leitos longe do pestilento ferido,
ou do que passo a passo conquista a sua bandeira.

Porque a vida é pegajosa como cólera ou rio
e abre um túnel sangrento por onde nos vigiam
os olhos duma imensa família de dores.

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