quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Passando em frente... (Eucanaã Ferraz - 1961)

Passando em frente
ao antigo, imponente
prédio:

o leão, velho, pára
e repara, atento,
naquele seu estranho parente.

Repara nas patas
bem postas,
pesadas, afiadas,

nos pelos, nos olhos,
em tudo que, granítico,
jamais apodrece.

O leão velho vê
a si mesmo
e inveja o irmão de pedra.

Pensa, por exemplo, que
não poderia guardar
entradas de edifícios

como faz o pétreo
leão de guarda,
impávido, perfeito.

Enquanto medita, moscas
fazem festa em volta de sua juba,
um tanto suja,

não há como negar, e
todo ele, desse jeito, mostra
uma ternura engraçada,

de palhaço,
de palhaço velho,
mais doce por isso.

O leão de pedra,
ao contrário, é,
depois de um século,

todo empáfia,
um rei
que não morresse,

que não morre,
que permanece, e
mais rei por isso.

O leão de pedra, imóvel,
guarda a entrada do templo,
enquanto o outro

procura por nós, igual
a nós, dentro
do tempo.

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