Passando em frente
ao antigo, imponente
prédio:
o leão, velho, pára
e repara, atento,
naquele seu estranho parente.
Repara nas patas
bem postas,
pesadas, afiadas,
nos pelos, nos olhos,
em tudo que, granítico,
jamais apodrece.
O leão velho vê
a si mesmo
e inveja o irmão de pedra.
Pensa, por exemplo, que
não poderia guardar
entradas de edifícios
como faz o pétreo
leão de guarda,
impávido, perfeito.
Enquanto medita, moscas
fazem festa em volta de sua juba,
um tanto suja,
não há como negar, e
todo ele, desse jeito, mostra
uma ternura engraçada,
de palhaço,
de palhaço velho,
mais doce por isso.
O leão de pedra,
ao contrário, é,
depois de um século,
todo empáfia,
um rei
que não morresse,
que não morre,
que permanece, e
mais rei por isso.
O leão de pedra, imóvel,
guarda a entrada do templo,
enquanto o outro
procura por nós, igual
a nós, dentro
do tempo.
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