terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vê: a luz, pela fresta (Eucanaã Ferraz - 1961)

Vê: a luz, pela fresta,
estrela magnífica
e doméstica, vem,

acaso e matemática,
morder no copo
a água que dormiu à mesa.

Do corpo amado, da canção,
de uma romã, de uma manhã qualquer
a lâmpada que se exala

pode não ser a morte da morte
e talvez não mostre a agulha perdida
na sala ou no tempo, mas

infringe, por ínfimo farol
que seja, certos escuros: um canto
do quarto, da dor, do olhar.

Dure apenas um minuto
a gema de um tal ardor,
sol tão pequeno,

há que se acender
em cada mínimo
a força da minúcia.

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