sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Minha escola (Ascenso Ferreira - 1895 - 1965)

A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Luzíadas de Camões!

À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... - A minha adorável vida de criança:
Pinhões...Papagaios...Carreiras ao sol...
Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos de ingazeira pra dentro do rio...
Jogo de castanhas...
- O meu engenho de barro de fazer mel!

De outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
- Quantas orações?
- Qual é o maior rio da China?
- A 2+2 AB = quanto?
- Que é curvilíneo, convexo?
- Menino, venha dar sua lição de retórica!
- "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
- Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
- Agora, a de francês:
- Quand le christianisme avait apparu sur la terre...
- Basta
- Hoje temos sabatina...
- O argumento é o bolo!
- Qual é a distância da Terra ao Sol?
- !??
- Não sabe? Passe a mão à palmatória!
- Bem, amanhã quero isso de cor...

Felizmente à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.

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