domingo, 2 de março de 2014

De sonhos dados: neurônios (Thiago de Mello - 1926)

Não convém que a mente acesa
interfira além da conta
nem morda o sol da emoção.
O sentimento se encolhe
quando a inteligência alteia
a voz fria da ciência
cantando o poder da treva
em que se esconde a galáxia
de estrelas que vão nascer.

Na construção da poesia
o cérebro e o coração
trabalham de sonhos dados.
Quem foi que teve a coragem
de afirmar que a inteligência
não sente e que coração
não pensa?
Não é segredo:
no cerebelo residem
os instintos da razão.

O cérebro e o coração
se vigiam e se ajudam
quando o homem ama com arte.
Quem me conhece já sabe,
basta que eu mude de tom.
Convém contudo lembrar
o que faz tempo aprendi:
a palavra da boca é sempre inútil
se o sopro não lhe vem do coração.

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