sábado, 17 de dezembro de 2011

Versos a um cão (Augusto dos Anjos - 1884-1914)

Que força pôde, adstrita a embriões informes,
tua garganta estúpida arrancar
do segredo da célula ovular
para latir nas solidões enormes?!

Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes,
suficientíssima é para provar
a incógnita alma, avoenga e elementar
dos teus antepassados vermiformes.

Cão! Alma de inferior rapsodo errante!
Resigna-a, ampara-a, arrima-a, afaga-a, acode-a
a escala dos latidos ancestrais...

E irás assim, pelos séculos, adiante,
latindo a esquisitíssima prosódia
da angústia hereditária dos teus pais!

5 comentários:

  1. Apesar de uma busca demasiada elaborada das palavras...gostei.

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    1. Ele usa muitos termos científicos. É uma das suas principais características.

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  2. E todos os poemas dele são assim: palavras difíceis, desconhecidas e que fogem ao comum... No entanto, ele é extremamente popular entre nós!

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  3. Transmitiu para mim a ânsia e a angústia de ser, sem saber exatamente para quê, onde, como, por qual motivo... essa existência que como um latido ecoa.

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  4. Certas coisas são mesmo ancestrais... Queria ter colocado aqui uma foto que representasse toda a força desse poema, mas não consegui achar.

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