domingo, 13 de maio de 2012

o não decifrador (Geraldo Carneiro - 1953)

tudo que escrevo foi talvez escrito
ou sonhado por outro antes de mim.
minhas metáforas não me pertencem.
a língua me sugere seus enigmas,
o que me cabe é apenas recifrá-los
como um decifrador a quem não fosse
revelada a chave do código.
a desrazão me inspira
                                   e ao meu redor
vou inventado o mundo em que me amparo.
me falta o credo para chamar de alma
aquilo que me anima.
no entanto sei que há vozes aqui dentro.

sou tão medíocre quanto qualquer ser
que habite nesta esfera.
sei que o ar é rarefeito
feito de um sopro cuja cor me escapa
embora a flor se ofereça no meu sonho

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