segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mulher - 1 (Yone Giannetti Fonseca - 1929)

E agora, mulher,
Que soltou seus freios,
Que saiu dos eixos.

E agora, camélia,
Sua carne manchada,
Transada, se salva?

E agora, o pecado
Tão moderno e quente
Vai ter Happy-end?

E agora, mulher,
Você vai poder
Pisar firme e reta?

Borboleta bêbada
De vinho e desejo,
Depois desta entrega.

Depois deste incêndio,
Cadê seu sossego,
Cadê seu roteiro?

E agora, mulher,
Que você aborta,
Que você desbunda.

E que arromba portas
Erguendo um revólver,
E que faz negócios.

E que puxa fumo,
Você desconfia
Que tudo é um gemido?

E agora, mulher,
Nordestina, escória,
Que virou carioca?

Que virou miragem,
Robô, operária,
Puta e favelada?

Tão trivial e exposta
Ao consumo e à sorte
De uma coisa morta?

3 comentários:

  1. Obrigada, Maíra! Essa poesia é linda demais!!! Ameiiiiiii... Hanna.

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito. Acho que as mulheres vão entender isso ainda melhor. Parabéns.

    ResponderExcluir
  3. Amei!
    Amei tanto quanto amo o E agora, José?
    E achei o máximo a época em que foi escrito.
    Mulher bacana essa :)

    beijos

    BF

    ResponderExcluir