quarta-feira, 17 de abril de 2013

Não saberão de mim (José Eduardo Degrazia - 1951)

Não saberão de mim
os estudantes tímidos e abandonados
nos quartos de pensões e repúblicas,
não saberão de mim
as costureirinhas pálidas
nos seus tugúrios de linhas e carretéis,
não saberão de mim
os condutores de locomotivas,
não saberão de mim
os mineiros de mãos de barro e carvão,
nascidos na névoa viva no fundo da mina,
não saberão de mim
os camponeses queimados de sol
em plena colheita do verão,
não saberão de mim
as professorinhas insones
dos colégios de arrabalde,
não saberão de mim
as balconistas das lojas de delicatessen
envoltas em suas auras de sonho,
não saberão de mim as manicures
de mãos macias e olhos tristes.

Não saberão de mim,
e, no entanto,
foi para eles que escrevi
os meus melhores poemas.

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