sábado, 3 de maio de 2014

Morremos sempre (Hilda Hilst - 1930 - 2004)

Morremos sempre.
O que nos mata
São as coisas nascendo:
Hastes e raízes inventadas
E sem querer e por tudo se estendendo
Rondando a minha
Subindo vossa escada.
Presenças penetrando
Na sacada.

Invasões urdindo
Tramas lentas.

Insetos invisíveis
Nas muradas.

Eis o meu quarto agora:
Cinza e lava.
Eis-me nos quatro cantos
(Morte inglória)
Morrendo pelos olhos da memória.
Aproximam-se.
E libertos da presença da carne
Se entreolham.

O teu nascer constante
Traz castigo.
Os teus ressuscitares
Serão prantos.

2 comentários:

  1. Fala e cala fundo. Simplesmente sem palavras...

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  2. Os poemas de Hilda, sempre tão intensos, sempre tão agudos, revelam-nos sempre um pouco do que somos, do que amamos, principalmente do que tememos. Esse morrer sempre, em cada coisa nova e em cada coisa antiga, esse castigo, esse pranto do ressuscitar quem somos, são eles que adoçam nossa voz para com o semelhante, que nos tornam mais humanos e compreensivos. É um belo poema. Beijossssss

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