domingo, 4 de maio de 2014

Um todo me angustia (Hilda Hilst - 1930-2004)

Um todo me angustia.

Se era de amor a ilha
E o mar à minha volta,
Não será menos certo
Que a sextilha de agora
Das formas que pensei
É a mais remota.
Temos jeitos de ser.
(Às vezes obscuros
Como convém ao ser)
Se em nada me detém
Água de muitos rios
Passando por canais
De grande amor e mágoa,
Em tudo me detenho
E sei que sou raiz.

E se às vezes abrigo
Num caminhar rasteiro
As solidões alheias,
Às vezes vertical
Encontro aquele mundo
Que é também o da terra
Feérico e abismal.

Tão grande ambivalência
Concedida aos homens
Terá sido dos deuses
Complacência?

Um comentário:

  1. Será, enfim, a ambivalência que nos marca, não mais que dos deuses demonstração de complacência? Será, antes o choque dos sentimentos que nos constituem? Amor e mágoa, mar, rios e canais, tudo de que nos nutrimos? Será a solidão alheia não mais que o reflexo da nossa? Hilda nos cerca de incógnitas, sem nenhuma resposta aparente. E isto também é poesia. Beijossssss

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