Fechando os olhos agora, ainda vejo aquela cena que presenciei no Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado, na cidade de São Luís, no Maranhão. Como todos aeroportos, aquele também é um lugar de encontros e despedidas, de abraços e sonhos, de lágrimas e sorrisos. Não seria diferente dos demais aeroportos, naquela tarde calorenta e abafada de outubro.
Poucas pessoas aguardavam a chegada das bagagens na pequena esteira rolante. Notei um senhor, com uns oitenta anos, vestido com sua calça de tergal esgarçada pelo uso, sandálias havaianas gastas e uma blusa xadrez de manga curta. Cego, era auxiliado por um funcionário da companhia aérea. O senhor, contido em seus gestos, descreveu para o atendente a bagagem que rolaria na esteira. No momento certo, o funcionário da empresa entregou a mala ao dono, que já estava pronto para o efetivo desembarque em terras maranhenses.
Rumamos juntos para a grande porta de metal e vidro que separava aquele ambiente em que estávamos do saguão do aeroporto. Saímos juntos, mas separados. Mal a porta se abriu, apareceram umas dez crianças, de todas as idades, gritando ao mesmo tempo: “Vô”, “Meu avô”, “Vozinho querido”, “Quanto tempo!”, “Tava com saudade...”. E as crianças, de todas as idades, pulavam no pescoço do avô, davam beijos, gargalhavam e o abraçavam como se não o vissem há décadas, o que era impossível dada a idade de todas elas.
O avô retribuiu aos gestos de carinho, dando um beijo afetuoso e demorado em cada um dos netos e deixando-se, após, guiar por eles aeroporto afora. Naquele curto instante, pude ver o sorriso de alegria e a emoção estampados no rosto do avô. Ele, contudo, não pôde observar as carinhas de felicidade das crianças quando o viram caminhando em direção à porta. Também não notou que todas elas estavam vestidas com suas melhores roupas para o encontro com o querido avô. Eu vi e posso dizer que gostaria, um dia, de ser querida assim, com tal intensidade e bem querer.
Nunca mais voltei ao Maranhão, mas carrego comigo essa imagem que o tempo não destrói e dela sempre me recordo carinhosamente, com uma lágrima e um sorriso.