Venho aqui contar uma história real, de um trabalhador da minha super quadra, em Brasília. Faço mea culpa, pois, embora o admire de longe, não tive a coragem, ainda, de conversar com ele, saber seu nome ou mesmo sua história.
O senhor aparenta ter, já, uns sessenta anos. Talvez não tenha toda essa idade. No entanto, para quem vive de sol a sol, o tempo deixa marcas mais profundas na pele, o que acaba por lhe dar mais anos do que efetivamente venha a ter. Ele varre a quadra: isso inclui retirar as folhas que as muitas árvores teimam em jogar no chão, limpar o parquinho infantil e varrer o piso acimentado. Chega bem cedo para fazer o seu trabalho. Está sempre de bom humor, ao menos é o que deixa transparecer para quem procura ver.
Sou uma das poucas pessoas que lhe deseja bom dia. Queria fazer mais, talvez conversar um pouco, ouvir o que esse senhor tem a dizer ou mesmo partilhar do seu silêncio, se as palavras não puderem ou não quiserem sair.
Esse senhor não deve ter grande formação acadêmica, pessoa de poucos estudos, a quem, quiçá, esse seja o mais importante emprego que poderia almejar. Talvez não... Como saber?
Bom, o fato é que mesmo sem nada conhecer a respeito da vida desse trabalhador, admiro-o em silêncio, do conforto do meu amplo apartamento. Às vezes me pego a olhá-lo e me vejo repleta de um sentimento bom que não sei explicar, pois me é diferente de tudo que já senti anteriormente. Percebo, à distância, a serenidade do seu trabalho, em como, com graça, ele recolhe as flores e folhas caídas, em como o lixo é juntado, quase que religiosamente, nos sacos pretos...
É certo que as folhas caem todos os dias e ele, sabedor de tal fato, vem, diariamente, exercer com zelo o seu ofício. De manhãzinha chega e só se retira quando o céu dá sinal de que a noite se avizinha. A maioria de nós passa por esse trabalhador sem o enxergar; alguns têm pressa, mas a maior parte simplesmente não enxerga a pessoa que mantém limpo o chão onde nossos pés pisam.
Já faz umas semanas que não vejo, de minha janela, o senhor. Foi substituído por um rapaz jovem, que não desenvolve, com a mesma graça, o trabalho. Tenho sentido falta dele. Quero acreditar que essa ausência seja só por um período de férias. Frequentemente me ponho a olhar pela janela, saudosa de uma pessoa que nem conheço e que, mesmo sem saber, faz parte dos meus dias. Invisível para muitos e exemplo de perseverança para mim...
Maíra, um texto seu! Que lindo! Parabéns....
ResponderExcluirLindo. Adorei. Me emocionei aqui. De novo!
ResponderExcluirEsse é meu mesmo, Andressa! Mas não é um poema... Ainda estou me adaptando a eles para conseguir fazer os meus (rsrs).
ResponderExcluirE daí que não é um poema? hehe O texto é igualmente, senão ainda mais belo! Parabéns!
ResponderExcluirBrigadinha, querida! Já gostei de você(rsrs). E que bom que gostou da minha "produção"...
ResponderExcluirFilha de quem é só podia ser assim... inteligente, criativa, especial...
ResponderExcluirTambém gosto de poesia Maira, mas ainda não arrisquei poetizar. Vc lê muitoe isso é tudo. Sinto que preciso retornar a me dedicar mais... Ocupar a mente com coisas que realmente fazem a diferença. UM beijão, Graziela Fabri.
Obrigada pela visita, Graziela! E volte sempre... Embora também não me arrisque a fazer poesias, já me basta ler e publicar no blog aquelas que mais gosto. Eventualmente terá um texto meu(rsrs). Beijinhos!
ResponderExcluirRelendo. !Parabéns!
ResponderExcluirA autora tem ainda coisas lindas a publicar, lembro-me.
São pessoas que interferem em nossas vidas sem nem saberem que o fizeram.
ResponderExcluirJá leu o livro ! "As cinco pessoas que você encontra no céu" de Mitch Albom ? Devem ser pessoas como este personagem da sua vida.Bjs.
Texto lindo e mais linda a observação que deveria ser algo comum a todos os olhos, mas infelizmente é preciso um amor maior a vida e a simplicidade.
ResponderExcluirLi suas palavras com um imenso prazer e confesso, estou curiosa pra saber quando esse senhor volta! Grande Bj!