terça-feira, 14 de junho de 2011

Família (Carlos Drummond de Andrade - 1902-1987)

Três meninos e duas meninas
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.

3 comentários:

  1. O que mais me fascina no Drummond, entre tantas coisas, é a forma como ele poetiza sobre coisas que passariam despercebidas para a maioria das pessoas.
    É como uma criança brincando com um graveto e imaginando-se um guerreiro e convence a si mesmo que é.
    Drummond convence a si e aos outros.

    Parabéns pelos posts, sempre de muito bom gosto.

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  2. Obrigada, Will! Acho que Drummond tem a qualidade da simplicidade (para escrever sobre as coisas mais banais e tirar poesia - boa, diga-se! - daí). Um dos meus preferidos...

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  3. porque o titulo dessa Poesia

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