o meu verso fala:
da fábula do perdido
dos que uivam de amor
do vento da nuvem do medo
dos rascunhos da mosca, da caligrafia,
de tudo que apenas se esboçou.
fala da ferrugem
que habita o lixo dos quintais
dos sapatos expostos ao tempo
do lodo que escorre da noite
da cárie, da calvície
de tudo que não existe mais
queria por no meu verso
em lugar da rima a ruga
o funeral das formigas
o pavor dos besouros sob o sol
restos de coisas, restos de nada, réstias,
nonadas
por um pouco:
do carteiro
do garçon
do alfaiate
do livreiro
pedaços de gilete
alfinetes lâmpadas queimadas
livros riscados pregos
pinças o fútil o inútil
o dúctil
e fazê-lo abrigo
para o pote
o pente a tesoura
o nariz de Adélia
os dentes de Fidélia
o meu verso guarda
um cariri na memória
de tanto que leu Proust
recorda:
o som do leite quente no tacho
o gosto assustado da goteira
o cheiro das tristezas da terra.
Todos os motivos de mundo podemos ter, ou apenas um!
ResponderExcluirVontade de dizer tudo, falar de tudo... mas o dia em que esse exercício impossível se realizar, talvez a poesia não mais seja tão especial!
Pode nem ter motivo algum, só o dia a dia mesmo! A minha nada tem especial (rsrs). Beijos, querida!
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