quarta-feira, 23 de maio de 2012

Os sonâmbulos (Alexei Bueno - 1963)

Eles caminham nos telhados,
Nas balaustradas, nas varandas,
Dedos à frente, olhos cerrados,
Beiram o vácuo dos dois lados
Sobre os beirais e as platibandas.

Como ímãs ébrios seus sapatos
Burlam a queda, e, no seu dia
Onde há um sol negro, chutam gatos
Ao ar, pisando os pobres matos,
mechas da velha alvenaria.

Não estão mortos nem são vivos,
Cruzam por urbes de ninguém
Onde há milhões. Hirtos, esquivos,
Sabem, idênticos e altivos,
O que é real, e o certo e o bem.

Senhores da hora e da verdade,
Babam no abismo, engolem moscas,
Marcham pela única cidade
Que existe, em glória e majestade,
Com as reviradas íris foscas.

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