segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tenho tudo (Carlos Felipe Moisés - 1942)

Tenho tudo o que não quero.
Perder não é senão o intervalo
entre aguardar e nada ter.
(Que melodia é esta
que povoa o espaço em meu redor?)
Tenho tudo. Nada quero.
O coração desconhece
o compasso que amanhece
tudo em torno.
No entanto
meus passos seguem
- no encalço de quê?

Tenho tudo: a noite abrigada em meu peito
a música de meus passos
a relva o caminho
a distância
coberta por inesquecível melodia.
Não quero mais do que tenho.
(Um canto flutua no ar vazio.)

Tenho tudo: os pássaros que me fogem dos olhos
para saudar
no horizonte
a úmida manhã que principia.

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