quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O corpo, dois corpos (Maria Teresa Horta - 1937)

Dizer do corpo
o corpo da poesia

Os ombros
os seios
o ventre que sequestra

entre as pernas fechadas
a vagina
com a sua longa boca entreaberta

Pensar do corpo
o corpo da poesia

Mais os dedos do que as mãos
sobre as arestas
Mais as fendas do que o liso

Mais a ruga
Mais a ruga das coxas
e das pernas

Depois vêm os dentes e a língua
a descer no trilho brando do umbigo
bebendo o sal do suor da pele
e o fermento de um doce que não digo

Escrever do corpo
o corpo da poesia

Os pulsos tão febris
a nuca
e a garganta

O silêncio de uns olhos
que por certo queriam
ver bem mais longe do que o pubis
deixa

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