quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A voz da tília (Florbela Espanca - 1894 - 1930)

Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça;
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera...

E de manhã o Sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primavera...
E é para mim que em noites de desgraça

Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine..."

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
"Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás de ser tília como eu sou..."

4 comentários:

  1. Tristeza serena e bela...como a autora:)

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  2. Aqui também tem muita coisa boa: puro linho!!!!

    Obrigada pela visita, volte sempre, assente-se e seja feliz!

    Maria Maria

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  3. M., sempre me emociono com os poemas dessa sua conterrânea portuguesa!

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  4. Seja bem vinda aqui, Maria Maria! Todo dia temos poemas "novos" no blog.

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