domingo, 5 de fevereiro de 2012

Deixei (Fernando Pessoa - 1888 - 1935)

Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.

A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.

Nada se explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.

2 comentários:

  1. Nada a declarar. Amo todas as poesias dele, sem qualquer esceção (ou restrição!).
    Bom domingo.
    Bj.

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  2. Sempre lembro que você o idolatra (rsrs). É perfeito mesmo tudo o que ele escreve...

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