quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Poética (Alexandre Pilati - 1976)

A propósito diria
que agora trato de inventar o que passou
Imaginar e planejar o passado
(Talvez utilize coloridos gráficos, planilhas e quadros)
e de esquecer o futuro como faria um legítimo fantasma.

E eis que está aqui (algo que evidentemente
se encontra no mesmo nível
de reificação daquele luminoso
de refrigerante
que às vezes cega minha vinda pela avenida)

E eis que está aqui (um grão de capital em velocidade infinita
rápido: um conceito
ou o riso de uma onça negra)
algo lindo, límpido, esquálido. Nem eu nem tu. Nem ele nem ela.

Um artefato deixado sob os ossos
Esquecido. Duma antiga guerra.
Que ainda mantém vivo seu poder aniquilador.

Eis aqui poucas sílabas. Palanques de um terreno em disputa.
Unha a unha, pelo a pelo, disputado, como naquele caso antigo
da maçã que marcou o mundo com pecado.

- Simples como palitar os dentes: detoná-lo, num lance de sorte.
Iriam pelos ares os molares de um sorriso
Ou a pó iria meu coração de melão -

Não o mexamos muito não. Deixestar. Não.

Eis aqui esta palavra.
Baldada a última tentativa de nos matarmos.
E outro mundo vir à tona.
Tratemos de imaginar o passado – apenas como os poetas fariam.

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