segunda-feira, 4 de maio de 2015

Paisagem da miséria humana (Laeticia Jensen Eble)

Me espanto com o que vejo:
Não pode ser real.
Não pode ser humano.
Não pode ser.
Para mim, é efêmera paisagem.
Para tantos, é face cruel e permanente da vida:
a miséria humana.
A miséria é carniça.
Os urubus estão rondando.
E o assassino está no poder.
Da miséria que lhe agrada, sua criada,
é o criador.
Dia a dia planejando
o próximo golpe fatal da criação - da multiplicação.
Não dos pães. Da fome, da dor.
A miséria não fala,
não entende o que ouve,
nem pode entender.
Suprimiram-lhe as ferramentas.
O suor corrói a sua fé.
As mãos, ásperas, secas,
fendidas como o chão que a escora,
e talvez como a vida que insiste,
não oferecem perigo.
Somos todos egoístas!
As máscaras caem.
A aridez decompõe a noção da vida.
Por mais que joguemos terra, a cova se mostra
palmo a palmo mais funda.
A miséria cresce qual erva daninha.
A parasita videira mantém-se intocada.
Onde encontrar a raiz desse mal para cortar?

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